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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto e biografia:
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SANTINO GOMES DE MATOS

( Minas Gerais – Brasil )

 

Santino Gomes de Matos nasceu na cidade de Icó, CE, em 1908.
Estudou em seminário e lecionou português, francês, inglês e latim nas cidades de Crato, Batatais e Orlândia.
Em 1935 transferiu sua residência para Uberaba, onde se dedicou intensamente ao jornalismo e ao magistério.
Foi redator e depois diretor da Gazeta de Uberaba e, posteriormente, por muitos anos, redator-secretário do Lavoura e Comércio.
Após deixar a militância diária em jornal continuou a colaborar na imprensa, onde manteve seção de filologia.
Foi professor de língua portuguesa na Escola Normal e Oficial de Uberaba, de filologia romântica e de língua portuguesa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino, de português e literatura no Colégio Triângulo Mineiro. Exerceu as funções de chefe da Agência Municipal de Estatística e de vereador à Câmara Municipal de Uberaba. Pertenceu à Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, sediada em Belo Horizonte.
Era membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, na qual ocupou a Cadeira no. 2, que tem como patrono Hildebrando Pontes.
Faleceu em 1975.

Obras publicadas:
Flagrantes ao Sol do Norte: contos
Oração dos Humildes: poesias
Porque Maquinaria e Nunca Maquinário, filologia
Inferno Divertido da Análise Sintática, filologia

Bibliografia:

Paolinelli, Sônia Maria Rezende. Coletânea Biográfica de Escritores Uberabenses. Uberaba (MG): Sociedade Amigos da Biblioteca Pública Municipal "Bernardo Guimarães", 2009. 171 p

 

 

BILHARINHO, Guido.  A Poesia em Uberaba: do Modernismo à vanguarda.  Uberaba:  Instituto Triangulino de Cultura, 2003.  336 p.                                                       Ex. bib. Antonio Miranda

 

hora essencial

Eu tinha um pífaro
e os gemidos do mundo.
Entretanto, meus lábios sem sopro
dormiam no êxtase planturoso de uma flor de cacto,
como ferida muda dos espinhos.

Eu tinha um pífaro e os gemidos do mundo.

Mas o silêncio,
o meu silêncio de inocência distraída,
rimava com os olhos fantasmas das luas mortas,
num fundo de céu inapelável.

Eu tinha um pífaro e os gemidos do mundo.

Não sei se a hora essencial desfechou do alto
ou se amadureceu dentro de mim,
em abismos revelados,
para que eu nascesse de novo.

Eu tenho um pífaro que ressoa
afinado pelos gemidos do mundo.

domingo à tarde

Domingo à tarde, todos os misticismos descem para junto da gente.
Principalmente, se a neblina envolve o arvoredo
e, pela rua, passa um carro músico de propagandas,
tocando valsas velhas e tristes.
Sente-se vontade de ir não sei para onde,
uma vontade que se pode crismar de saudade do céu,
Foi o que aconteceu comigo, nesta tarde de domingo.
As árvores enlutaram-se de asas de urubu,
estendidas a uma promessa de sol.
Os velocípedes das crianças não se atreveram a correr nos passeios.
A rua silenciosa dentro do meu silêncio
e a bruma nos acolchoou num ambiente de êxtase.
De repente, surgiu a música, com uma saudade antiga,
incapaz de precisar lugares ou pessoas.
Os sons formaram poças dentro de mim
como águas paradas e foscas, que já nada refletem.
E eu me enchi de desejos esquisitos.
Tentações de todo dissolver-me na neblina
e nos gestos sibilinos das árvores.
Vontade de ainda ser criança, ser menino,
para acreditar que um rei generoso passaria pela minha porta,
veria a minha tristeza
e me daria um tesouro fabuloso,
nunca sonhado por ninguém no mundo.


a noite que de novo veio ao meu encontro

Nas noites de minha vida,
uma treva maior e mais pressaga
enche aquela noite doente de mal-assombros.
O som de uma corneta boiava por sobre a calma
[estúpida da escuridão.
Não era, entretanto, o toque marcial de um clarim fustigante.
Era um som que rolava em notas sonâmbulas,
a me encher de horror supersticioso
do que esmorece,
do que sucumbe,
no desalento do fim.
Uma asa forte de vento batia,
com palpitação de cousa viva,
na laranjeira do quintal.
E as corujas do campanário próximo,
com ninhos por baixo do sino das almas,
que somente dobrava a finadas pelos pobres, pelos miseráveis,
vinham rasgar mortalha, debaixo da minha janela.
Crescia noite rumorosa no meu pavor de criança.
Sentia em todos os ruídos e em todos os ecos,
(a corneta, sempre a corneta de um soldado bêbado tocando
a recolher)
uma ronda ativa de espíritos inquietos,
em conspiração contra os meus nervos desvairados.
Depois, eram as doze horas, vagarosas,
compassando marteladas infindáveis,
no relógio da sala de jantar.
Cansado de tanto medo,
arremessava de mim a coberta protetora
e encarava a negridão da treva.
Tentava penetrá-la, numa afoiteza de perdido,
varejá-las nos seus duendes, nos seus fantasmas,
entregando-me à invasão do mal-assombro.

Há notes em que ainda ouço
o sol espectral daquele toque de corneta.
Voltar a bater, aflita, na minha lembrança,
a asa epilética do vento.
Um gargalhar de corujas ressurge dos ecos distantes...

Mas ou eu agora quem falto,
quem me ausento,
numa insensibilidade renegada.
Onde aquele medo, aquela alucinação doente,
que me punha em comunicação com
o Invisível,
o Misterioso,
o Insondável?
E eu sofro a dureza pétrea da minha vida material.

*

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Página ampliada e republicada em maio de 2022


 

 

 
 
 
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